
Uma coreógrafa dois compositores: Clara Andermatt, Jonas Runa e António Sá-Dantas.
Uma performance, um concerto, uma coreografia musical.
Momentos previstos de imprevisibilidade sentida, tudo nasce em cada instante, todo o som é criado ao vivo.
Composição, improvisação, experimentação. Colaboração.
A suspensão como movimento perpétuo circular entre encerramento e abertura.
Ser e não ser marcam o ritmo.
Debilidade e força.
O coração marca uma cadência, assim como a respiração que inspira e expira o ar necessário para a vida.
Chega a momentos de transe – obsessão, exploração inquieta, espécie de procura que ignora o seu objetivo final.
Uma livre associação, uma ruptura constante das soluções de continuidade.
Um leque, símbolo de asas, metáfora do coração, tudo é matéria da imaginação.
Toda a aparição pode ser vista como dança ou como música. Como ritmo em
qualquer caso, um ritmo que vive da agitação.
Suspender ajuda-nos a esvaziar e a alcançar a serenidade necessária para o fôlego
que o excesso exige.
Energias visíveis e invisíveis – energias da aparição e do desejo, e da morte
também – comuns à arte e à natureza.
Experimentação com/e invenção de novos instrumentos e novas técnicas de criação sonora; neste projeto procuramos encontrar novas ligações, novos modos de pensar o movimento, novos sons, novos modos de pensar o conjunto como apenas um elemento.
O corpo expressa-se em movimento na criação do som, que muda a percepção do movimento necessário para o ter criado. O corpo como instrumento. O som electrónico, o som acústico transformado eletronicamente, o som acústicotransformado acusticamente, e o som apenas acústico. Neste projeto é desenvolvido um instrumento sensível à luz, montado em vários pontos do espaço; os personagens modulam e criam som (eletroacústico) pelas sombras que vão projetando.
Alguém tem partes do corpo cobertas de microfones de contacto, fazendo com que o movimento da superfície do corpo, da pele, da roupa na pele se tornem audíveis, para além de visíveis. O som, numa relação de reciprocidade com o corpo, é criado pelo movimento, e muda a percepção deste mesmo movimento que o criou, dando ao corpo uma densidade granítica.
Outro, com um estetoscópio transformado, colado à sua caixa torácica (corpo de ressonância humano primordial) que se torna audível. O instrumento vital do coração é tocado, a sua velocidade e intensidade controlada pela respiração, o corpo é usado, abusado e utilizado como instrumento de percussão. A caixa torácica não só faz ressoar o que lá dentro toca, mas também o que de fora entra. A utilização da electrónica nestas diversas formas, une o homem à máquina.
A voz cantada, a voz falada, numa língua nova, momentos de um discurso derradeiro ou ritual desconhecido, enigmático, aproximam-nos de um lado humano, antigo, cómico e sobretudo universal que simultaneamente nos é estranho e
próximo.
Cenas que são variadas e revisitadas, não contam uma história cronológica, mas criam e sugerem figuras, sensações, pequenas histórias (como Kagel), que fluem de uma para outra, que voltam, que ficam, que desaparecem…
Inspirado, entre outros, na noção grega de epoche, este trabalho intitula-se Suspensão: suspensão por uma duração, do apreender racional do que acontece, em função da experiência vivida simplesmente, que servirá, apenas depois, de material pessoal de reflexão e crescimento.
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Direção Clara Andermatt
Criação/interpretação/espaço cénico Clara Andermatt, Jonas Tuna, António Sá-
Dantas
Desenho de luz Wilma Moutinho
Figurinos Ana Direito
Construção Espaço cénico Sergio Cobos
Assistência Guy Swinnerton
Sistema electrónico de interação Luz/som Jonas Runa
Produção ACCCA
Coprodução Teatro Viriato
Apoio Espaço do Tempo
Duração 60 minutos
Classificação etária M/6
APRESENTAÇÕES
2016
– ESTREIA 12 de Março — Teatro Viriato, Viseu
– (13 de Maio 2016 — Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada)
