Choreography
De olhos fechados, num trajecto predefinido, desenvolve-se a procura de um gesto por via da repetição de um percurso em direcção a uma luz. Trajecto esse bruscamente interrompido pelo embate com um microfone a meio do caminho. A enquadrar a acção, uma projecção de vídeo faz pairar numa tela de fundo imagens abstractas de um plano em desequilíbrio.
Num movimento inverso àquele imposto pelo mercado do belo e, consequentemente, pelas estruturas de produção na criação de objectos sem tempo de reflexão, Pan-versu surge do interesse em criar o espectáculo de não comunicação.
Sublinhar passagens de um livro organiza o corpo no espaço e no tempo, nessa linha intemporal de algo que se pretende agarrar. É traço que surge na instância do que se constitui na relação do espaço, do tempo e do pensamento. É movimento que abre e se desdobra. É fazer. É corpo escrito, dito, inscrito. E sublinhado.
Pensar o objecto artístico como forma de esconder, camuflar ou cobrir. Um conjunto de elementos minuciosamente colocado em cena para o jogo de revelação e ocultação. Um conjunto de erros, de depurações, de relações e de escrita, a partir do qual o corpo se constitui.
Após a residência de criação deste espectáculo durante um mês, no campo – nesse outro tempo e outra dinâmica de vida – deu-se um choque aquando do regresso à cidade. Na auto-estrada, entre um lugar e o outro, esbate-se a harmonia das coisas que antes se fundiam umas nas outras.
Os primeiros 10 minutos são sempre bem recebidos, terá certamente a ver com a expectativa criada em torno do momento inicial. Seguidamente as questões começam a tomar forma na crueza das acções, deixando algumas pessoas chocadas face à intrincada e grosseira coreografia de movimentos banais.